De Volta ao Mosteiro - Capítulo 3 - Reecontro
O bem-feito é melhor do que o
bem falado.
– BENJAMIN FRANKLIN
O PROFESSOR E EU PASSAMOS algum tempo em silêncio, até ele tocar de leve em meu braço e murmurar:
– Precisamos ir andando para encontrar os outros.
Rumamos para o prédio principal e entramos na sala em que havíamos nos reunido para nossas sessões de retiro, dois anos antes. A sala de tamanho médio continuava do jeito que eu recordava. Aconchegante e acolhedora, era inteiramente acarpetada, com estantes feitas à mão e lindas peças de marcenaria por toda parte. Os assentos consistiam em dois sofás velhos mas confortáveis, uma cadeira de balanço e várias cadeiras de madeira de espaldar alto (com o assento estofado, graças aos céus) espalhadas por diversos pontos. O lado esquerdo da sala, de frente para o lago Michigan, tinha janelões que descortinavam a vista espetacular do lago. No centro da parede, ficava uma enorme lareira de pedra, com um fogo crepitante, alimentado por perfumadas toras de bétula-branca. O fogo foi eliminando rapidamente da sala a friagem matutina, enquanto o velho carrilhão num canto fazia soar as badaladas da meia hora, indicando que eram sete e meia. Nos trinta minutos seguintes, os outros cinco integrantes do Bando dos Sete foram entrando, e a cada nova chegada havia na sala exclamações de entusiasmo, abraços e beijos.
Chris, alta e negra, treinadora do time de basquete da Universidade de Michigan, foi a primeira a chegar. Continuava uma mulher atraente e cheia de vitalidade. Em seguida, entrou Teresa, diretora de uma escola pública, e percebi que nos dois últimos anos haviam surgido fios brancos em seus cabelos, suavizando sua fisionomia. Ao seu lado vinha Kim, a enfermeira, com seu jeito tímido e discreto. Quando entrou Lee, o pastor que fora meu cordial companheiro de quarto no retiro anterior, eu me surpreendi com sua expressão contraída e fechada. Greg, o sargento, foi o último a chegar, e notei uma mudança nítida em sua atitude. Não havia nele a postura arrogante e defensiva que exibira havia dois anos. Todos se mostraram empolgados e felizes por se reencontrarem. Nunca fui muito chegado a abraços, mas lá estava eu, no meio dos outros, trocando os mais apertados. Em termos da nossa ligação afetiva, foi como se o tempo não tivesse passado, o que nos permitiu retomar o contato no ponto onde havíamos nos separado, dois longos anos antes. De repente, o carrilhão fez soar a primeira de oito badaladas.
Lembrando que Simeão era um rigoroso defensor da pontualidade, corremos para ocupar nossos assentos.
SIMEÃO COMEÇOU COM UMA RECAPITULAÇÃO de sua vida desde o nosso último encontro e sugeriu que cada um fizesse o mesmo. Fiquei comovido com sua profunda disposição de compartilhar. Ele falou abertamente de suas alegrias, frustrações, realizações e batalhas, com absoluta transparência e franqueza. Meu companheiro de quarto do primeiro retiro – Lee, o pastor, que viera de Pewaukee, no estado de Wisconsin – foi o primeiro a se oferecer para falar e expôs apenas alguns fatos corriqueiros de sua vida. Infelizmente, o resto do grupo seguiu o mesmo padrão. Ninguém descreveu os efeitos que o primeiro retiro causara, nem mencionou dificuldades, avanços ou retrocessos. Teresa, a diretora, disse que tinha se transferido para um grande distrito interurbano de escolas públicas em Detroit. Depois dela veio Kim, a enfermeira, contando que continuava a exercer a enfermagem no Hospital Providence, no sul do estado. Chris declarou ser agora a principal treinadora de basquete feminino da Universidade Estadual de Michigan. Anunciou com orgulho que seu time havia chegado às semifinais do campeonato nacional na primavera anterior, o que nos levou a aplaudi-la entusiasticamente!
Com precisão militar, Greg, o sargento, falou-nos sobre sua recente promoção a sargento de pelotão em Fort Campbell, no Kentucky, onde chefiava principalmente veteranos de combate que voltavam do Iraque ou do Afeganistão, muitos deles após múltiplos períodos de serviço. Isso também provocou uma salva de palmas do grupo. Na ocasião, achei estranho que, apesar do exemplo de profundidade, humildade e transparência com que o professor contara sua experiência, cada integrante tivesse resolvido abordar de modo superficial o que vivera naquele período, concentrando-se apenas no trabalho e nas realizações. Quando o sargento terminou, todos os olhares pousaram em mim. Senti o sangue subir para o pescoço e o rosto, enquanto a sala começava a girar devagar. Meus olhos se encheram de lágrimas e baixei a cabeça, sem conseguir dizer nada.
– O gato comeu sua língua? – zombou o pastor.
Logo me dei conta de alguém sentado ao meu lado no sofá e, como estava olhando para o chão, notei os sapatos pretos reluzentes que obviamente pertenciam ao sargento. Para meu assombro, ele pôs o braço em volta dos meus ombros. Uma verdadeira história de terror. Chorar na frente daquela gente toda! Aquilo não podia estar acontecendo comigo. Certo de estar no meio de um pesadelo, dei um beliscão forte no braço, na vã tentativa de
me acordar.
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PASSADOS ALGUNS SEGUNDOS CONSTRANGEDORES, felizmente, a treinadora perguntou sobre a programação do fim de semana.
– Estive pensando na mesma coisa, Chris – respondeu Simeão. – O que será que o nosso grupo gostaria de realizar neste fim de semana?
– Você é quem manda – reagiu o pastor, com o que me pareceu um tom sarcástico e inadequado. – Você é que deve nos dizer. O show é seu.
Ignorando a grosseria dele, o sargento propôs:
– Eu gostaria de voltar a explorar o conceito de liderança, especificamente a ideia de liderança servidora. Eu me beneficiei muito do nosso retiro de dois anos atrás. De repente, sem mais nem menos, deixei escapar:
– Eu queria poder dizer o mesmo, Greg! Passamos uma semana inteira aqui e ouvimos lições incríveis sobre liderança e vida. Quando voltei para casa, comecei bem, mas logo retomei meus velhos hábitos e modos de agir. Sinto vergonha de dizer que, em matéria de relacionamentos nas áreas principais da minha vida, estou pior do que há dois anos. E olhe que eu estava bem mal naquela época.
– Obrigado por compartilhar isso – agradeceu Simeão, em tom sincero. – É muita franqueza. Sinto orgulho de você, John. E desconfio que não foi o único a ter dificuldades. No nosso retiro, passamos muito tempo falando e aprendendo sobre liderança, e todos vocês saíram daqui empolgados com o futuro. Quantos podem dizer, sinceramente, que tiveram mudanças significativas na vida, como resultado do que discutimos naquela semana? Esperando que todos levantassem a mão, menos eu, corri os olhos pela sala, assombrado. Havia uma única mão erguida. E fiquei ainda mais chocado ao descobrir que essa mão solitária era a da pessoa de sapatos reluzentes, sentada ao meu lado no sofá. Fiquei pasmo. Eu não estava só.
– VOCÊS ESTÃO QUERENDO ME DIZER que o único que teve uma mudança real e profunda foi o Greg? – esbravejou o pastor, incrédulo. – Se me lembro bem, o nosso sargento aqui era o mais crítico e cético de todos!
– É verdade! – rebati, sem conseguir esconder minha irritação com os ataques verbais do pastor. – Mas a diferença entre você e o sargento é que, provavelmente, ele voltou para casa e conseguiu botar os princípios em prática. Você ainda deve estar orando para conseguir isso! Lembra do que foi dito, Lee? Intenção menos ação é igual a zero. Ou será que esqueceu? De onde vinha aquela raiva? Fiquei surpreso comigo mesmo.
– Qual é o seu problema? – retrucou o pastor. Houve uma pausa longa e constrangida. Eu comecei a me sentir culpado pela crítica severa ao Lee, quando a enfermeira nos salvou, quebrando o silêncio:
– Por que será que não mudamos, Simeão? Para ser franca, cheguei a ter pavor de voltar e rever vocês, porque estava com muita vergonha de não ter mudado como achava que deveria. A maioria dos outros balançou a cabeça, em sinal de concordância.
– Vocês não devem se sentir culpados – disse Simeão. – Os conceitos que discutimos em nosso retiro anterior são muito poderosos, mas uma coisa é conversar sobre eles, outra é colocá-los em prática.
– Eu gostaria de fazer uma sugestão – prosseguiu Kim, em voz baixa. – Por que não falamos um pouco sobre mudança e sobre a razão de apenas um de nós ter conseguido efetivamente aplicar os princípios de liderança?
– Boa ideia – aprovou a treinadora. – Mas também gostaria que começássemos recapitulando esses princípios. Lembrem-se que, da última vez, Simeão nos ensinou que relembrar é tão importante quanto aprender.
– Isso é bom, Chris – concordou a diretora. – Mas eu também gostaria de discutir as ideias de Simeão sobre a forma de criar e manter uma equipe e uma cultura de alto desempenho. Eu tenho tido muita dificuldade com isso.
– Se a sua definição de equipe e cultura inclui família e casamento, pode contar comigo – reagi. – Preciso de toda a ajuda que puder conseguir. Outras pessoas da sala concordaram. Após um minuto de silêncio, Simeão resumiu:
– O que estou ouvindo é que vocês querem fazer três coisas neste fim de semana: a primeira é reaprender e redescobrir os antigos princípios da liderança servidora que vimos no retiro anterior. A segunda é discutir os passos necessários para colocar em prática e manter esses princípios na nossa vida. E a terceira, examinar como construir
uma equipe e uma cultura de alto desempenho. É o que eu gosto de chamar de “construção da comunidade”. Vocês concordam?
Todos acenaram com a cabeça num gesto afirmativo.
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