Liderança não é um cargo – é
uma responsabilidade.
– PETER DRUCKER
SIMEÃO COMEÇOU IMEDIATAMENTE.
– Como acabamos de concordar, nossa primeira tarefa é rever os fundamentos da liderança. Talvez vocês achem que estaremos apenas repetindo o que foi dito há dois anos. Mas tenham certeza de que isso é necessário e extremamente eficaz, porque temos estruturas muito rígidas que resistem à mudança. Sugiro que cada um de nós
compartilhe com os outros dois aspectos importantes da liderança. Estão de acordo?
– Você é quem manda! – retrucou o pastor.
Apesar da irritação que todos sentiam em relação ao Lee, o grupo resolveu fingir que estava tudo bem e seguiu adiante, polidamente. Simeão postou-se na extremidade da sala, junto a quatro quadros grandes e brancos, apoiados em cavaletes separados. Deslocou-se para o último à esquerda e disse:
– Vamos começar pela definição dos termos. Alguém se lembra de como definimos a liderança há dois anos?
– Acho que guardei isso nas minhas anotações, Simeão – respondeu a diretora, rolando rapidamente as anotações do seu celular. Sempre fico admirado com o que certas pessoas são capazes de fazer com esses aparelhos! Mal consigo completar uma ligação. Enquanto a diretora lia, o professor escreveu:
Liderança = Habilidade de influenciar pessoas para que trabalhem com entusiasmo por objetivos identificados como voltados para o bem comum.
Simeão deu um passo atrás.
– Ótimo, obrigado, Teresa. Em termos simples, liderança é a habilidade de inspirar e influenciar as pessoas para a ação e a excelência. Tomando essa definição como base, vamos compartilhar o que cada um de nós acredita serem duas facetas importantes dessa habilidade fundamental chamada liderança. Quem quer ser o primeiro?
– Para mim – propôs a enfermeira – a grande lição que aprendi no nosso retiro anterior foi que a liderança é uma enorme responsabilidade. Simeão escreveu no segundo quadro:
Liderança = Enorme responsabilidade.
O professor desafiou:
– Alguém pode colocar isso em termos mais concretos?
A diretora tornou a falar:
– Eu sei que vocês implicam comigo por conta disso, mas gosto mesmo de citações. Um dos meus gurus favoritos em matéria de liderança é Max DePree, e adoro quando ele diz que liderar é envolver-se seriamente na vida dos outros.
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– Excelente, Teresa! – incentivou-a Simeão. – Envolver-se seriamente traduz bem a ideia. Quando eu trabalhava como executivo, sempre dizia à minha equipe que os empregados ficam no trabalho durante metade das horas que passam acordados. Imaginem! As pessoas passam mais tempo com o pessoal do trabalho do que com a própria família.
– E pensem no papel da liderança no casamento – acrescentou a enfermeira. – Uma pessoa assina um contrato de vida com você! Um contrato que pretende ser permanente, embora eu ache que hoje em dia é muito fácil pular fora. Que responsabilidade enorme!
– Ou na responsabilidade dos pais – acrescentou o pastor. – Se a pessoa é minha mãe ou meu pai, estou amarrado a ela pelo resto da vida! Não tenho como sair dessa! O sargento foi o seguinte a falar:
– E nós escolhemos assumir essa responsabilidade colossal, sem nos darmos conta do que isso representa! Ninguém nos mandou fazer isso. Somos livres para ir embora. Ninguém nos obriga a receber salário, casar, ter filhos, nem a nos tornarmos treinadores ou exercermos qualquer dos outros papéis de liderança que escolhemos por livre e espontânea vontade. Ainda que não tenhamos plena consciência, nós nos propomos a fazer uma coisa que envolve enorme responsabilidade quando aceitamos ser líderes. Acho que liderar é uma vocação muito elevada.
A treinadora acrescentou:
– Li recentemente um livro sobre um grande treinador de basquete da Universidade da Califórnia em Los Angeles, o falecido John Wooden. Ele chamava a liderança de missão sagrada. E como isso é verdade! São seres humanos confiados aos nossos cuidados durante períodos maiores ou menores de suas vidas. Pensar nisso é um exercício de humildade.
– Ser chefe é uma vocação elevada? Uma missão sagrada? – reagiu o pastor, parecendo cético. – Acho que uma vocação elevada, uma missão sagrada é ser missionário ou membro do clero. Não vamos exagerar.
– Exagerar, senhor? – contrapôs o sargento. – Posso passar uma hora por semana sentado numa igreja, ouvindo a pregação de alguém, sem que isso cause qualquer impacto na minha vida. Mas, como disse o Simeão, fico preso ao meu chefe durante metade das horas em que estou acordado. Pense no impacto que o chefe pode ter nas pessoas! Deixe-me perguntar ao grupo: quantos de vocês já trabalharam para um chefe ruim? Todas as mãos (exceto a do pastor) ergueram-se imediatamente. Greg prosseguiu:
– Esse chefe ruim afetou a sua vida? Eu tive uma oficial comandante terrível, que quase acabou comigo. Não conseguia nem dormir à noite. O comportamento dessa mulher afetava a minha vida inteira. Se vocês já trabalharam para um superior ruim, sabem o que eu quero dizer. Se a pessoa tem um chefe péssimo, o trabalho dela é péssimo. Estou exagerando? Não, acho que não. A diretora quis participar:
– Os jovens de hoje têm pouca tolerância com os maus chefes. Vocês leram sobre a pesquisa que levantou o número enorme dos que se demitem das organizações? Ela mostrou que dois terços dos jovens que saem não estão se demitindo da empresa. Estão se demitindo do chefe. A treinadora se apressou em concordar:
– Com certeza! Essa garotada pede demissão com a maior facilidade, muda-se para o outro lado do país e vai trabalhar para uma grande empresa que “sabe das coisas”. Você tem observado isso nos jovens, ultimamente, Teresa?
– E como! – exclamou a diretora. – Esses jovens de agora são diferentes, muito diferentes. Eles se tornaram céticos em relação às pessoas que ocupam lugares de poder e não hesitam em dizer o que pensam. Quando alguém manda “Faça isto, senão…”, a reação deles é: “De que planeta você veio, cara?” Pelo menos, essa é a reação dos melhores e dos mais inteligentes. Suponho que os medíocres se acomodem. Mas, quando os melhores concluem que o chefe não sabe das coisas, eles seguem em frente. A treinadora acrescentou:
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– No meu primeiro cargo como assistente na universidade, meu mentor me ensinou um teste para avaliar o grande treinador. É o seguinte: os seus jogadores melhoraram o padrão de jogo por terem passado umas temporadas com você? E não são só as habilidades no jogo, mas também se melhoraram como seres humanos.
– Adoro esse teste! – exclamou o sargento, entusiasmado. – As pessoas são melhores ao partir do que quando chegaram? Que teste genial! Se você quiser saber como está se saindo como líder, a resposta está nas pessoas que você lidera. Basta observá-las.
– Ou nas empresas – acrescentei, timidamente, sentindo-me hipócrita. – Os seus empregados vêm sendo promovidos? São solicitados por outros departamentos e até por outras empresas? A carreira deles será melhor por terem convivido com você?
– Ou na família – interpôs o pastor, parecendo ter entendido subitamente. – Quando os filhos saírem de casa, estarão prontos para o mundo? Estarão preparados para ser bons pais, vizinhos, cidadãos, empregados e líderes? Contribuirão efetivamente para melhorar a sociedade?
– Ótimas observações, pessoal! – declarou Simeão, satisfeito. – Estou convencido de que é exatamente assim que começa a liderança servidora. Não quando nos concentramos nos nossos direitos de liderança, mas nas nossas responsabilidades de liderança.
– Concordo plenamente, Simeão – disse o sargento. – E como líderes, nossa responsabilidade é servir aos que são confiados aos nossos cuidados. Também é por isso que eu acho crucial os líderes de vez em quando se recolherem para refletir, avaliar seu comportamento e se renovar com essa verdade. Liderar é servir. Isso exige muitas coisas.
Comecei a sentir que baixava sobre mim aquela velha sensação de tristeza e derrota. Veio vindo um conhecido aperto no peito, quando refleti sobre todos os papéis de liderança nos quais eu “me inscrevera” como chefe, pai, marido, filho, amigo, vizinho…
Você deixa as coisas melhores do que as encontrou? As pessoas se aperfeiçoam por causa do convívio com você?
Era claro que eu estava sendo reprovado no teste.
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