De Volta ao Mosteiro – Capítulo 5 – Influência
A liderança é um processo de
influência.
– KEN BLANCHARD, autor
de O Gerente-minuto
– KIM, QUAL É A SUA SEGUNDA contribuição sobre a liderança? – perguntou o sargento, educadamente, com um largo sorriso. Havia algo muito diferente nele. Eu me lembrava do Greg no primeiro retiro como um militar arrogante, que chegava a ser inconveniente. Embora ainda parecesse confiante e até convencido, havia nele uma
mudança visível. Fiquei pensando que gostaria de me aprofundar nisso.
– Bem, deixe-me ver – respondeu a enfermeira, sorrindo e olhando para ele
– Eu diria que é a influência, já que essa foi uma das palavras principais na nossa definição da liderança. Eu me refiro ao fato de que todos nós exercemos influência e impacto nas pessoas e nos grupos de que participamos, e podemos escolher influenciá-los de forma positiva ou negativa. Acho que o que estou dizendo é que todos nós deixamos uma marca nos outros. Sempre pronto a incentivar, Simeão adorou.
– Excelente, Kim! – e fez a anotação no quadro:
Liderança = Influência
– Obrigada por esse lembrete sobre a influência, Kim – falou Teresa.
– Acabei de consultar o dicionário no meu celular, e ele define influência como algo que impacta ou afeta a natureza, o desenvolvimento, o estado de alguém ou de alguma coisa.
– Na época em que eu dirigia empresas – disse o professor –, costumava lembrar às pessoas de todos os níveis hierárquicos que elas eram líderes, porque sempre exerciam influência e impacto nas outras. Clientes, fornecedores, elas mesmas. Você tem razão, Kim. Todos deixamos uma marca.
– É engraçado você dizer isso, Simeão – reagiu o pastor
– Na juventude, quando eu dirigia uma colônia de férias, antes de me tornar pastor, li muito sobre Herb Kelleher, que fundou a Southwest Airlines, um exemplo clássico de organização que adota a liderança servidora.
– Quer dizer que você teve uma vida antes de entrar no cemitério? – brincou o sargento, sorridente.
– É seminário, Greg – retrucou o pastor, sem sorrir.
Carregando agora
– Dá na mesma – tornou a brincar o sargento (pelo menos, achei que ele estava brincando).
– Ótimo, pois seja. Como eu ia dizendo, Herb Kelleher costumava dizer que os principais líderes da Southwest eram os comissários de bordo, porque eles influenciavam milhares de clientes da empresa todos os dias. Gente com quem Kelleher nunca se encontraria. A enfermeira pareceu impelida a falar:
– Gosto dessa ideia. Nossa liderança é a marca que deixamos nas organizações e nas outras pessoas. Todos deixamos marcas, sejam elas boas ou más. Por isso, a pergunta não é se o sujeito é um líder. A pergunta certa é: “Você é eficaz? As pessoas ficarão felizes por terem convivido com você?”
– Ótima colocação, Kim! – exclamou a treinadora. – Seus empregados vão ficar mais felizes? Sua família? Seus vizinhos? Sua igreja? As pessoas da sua equipe ficarão felizes por conviver com você? A diretora concordou:
– Basta pensar em todas as pessoas que exerceram influência sobre nós durante a vida: pai, mãe, avós, irmãos, demais parentes, professores, vizinhos, amigos, colegas de trabalho. Para mim, é uma lição de humildade e inspiração o número de pessoas que me influenciaram ao longo da vida. Por isso, uma pergunta importante para um líder é:
“Você deixa as pessoas e organizações em melhores condições do que as que encontrou?” – Todo mundo é líder? – questionou o pastor, suas palavras impregnadas de ceticismo (ou seria cinismo?). – Acho que deve haver apenas uma pessoa no comando. Tudo que tem duas cabeças costuma ser um monstro. O professor o contestou:
– As organizações realmente saudáveis não são dependentes de um único líder. Não é preciso ser chefe para liderar.
– Ora, isso é uma loucura! – exclamou o pastor. – O termo que se usa para os grupos sem líder é anarquia.
– Não, Lee – corrigiu-o Simeão, com delicadeza. – Não se trata de um grupo sem líder. É um grupo todo constituído de líderes, em que cada um assume a responsabilidade pelo sucesso da equipe.
– Como é que todos podem ser líderes? – perguntou o pastor, com um pouco menos de arrogância. – Como seria feito o trabalho?
– Por um grupo todo de líderes, com responsabilidades diferentes – observou a diretora, pensativa. – O chefe continua exercendo seus deveres e responsabilidades específicas, assim como as outras pessoas da equipe. Mas o que estou entendendo é que, em um grupo de líderes, todos assumem a responsabilidade individual pelo sucesso do
conjunto, influenciando e inspirando os outros a cumprirem seus deveres da melhor maneira possível. Fiquei impressionado:
– Falou bem, Teresa!
– Preciso pensar nisso – resmungou o pastor.
– Pois trate de pensar, Lee – retruquei. O grupo passou alguns momentos num silêncio constrangido, até que o professor nos liberou para nosso intervalo matinal de uma hora.
Carregando agora
A TREINADORA, A ENFERMEIRA E EU fomos ao refeitório buscar um café e alguma coisa para comer. No caminho, começamos a conversar.
– Que tal a aula, até agora? – perguntou Kim, sem se dirigir a ninguém em particular.
– Até aqui, tudo bem – apressei-me a responder. – Mas o Lee está me dando nos nervos.
– É, sei o que você quer dizer – concordou Chris. – Ele está insuportável com aqueles comentários inconvenientes. Um pastor devia se comportar melhor.
– Fiquei surpreso com Simeão por ele não dizer nada – acrescentei, em tom irritado.
– Para quem foi um líder tão fabuloso no mundo lá fora, não devia deixar isso acontecer.
– É, não sei direito se ele está sendo o melhor modelo de liderança para nós – concordou a treinadora. Olhei para a enfermeira, que baixara os olhos para seu lanche e parecia bastante constrangida. De repente, ela se levantou e pediu licença para se retirar da mesa.
– Está tudo bem, Kim? – perguntou a treinadora.
– Só estou meio incomodada com essa conversa, por isso vou voltar. Vejo vocês na aula.
– O que foi que deu nela? – perguntou a treinadora.
– Sei lá – respondi, sem fazer a menor ideia do que podia ter acontecido.
PEDI LICENÇA, DIZENDO À TREINADORA que precisava achar Simeão antes do fim do intervalo. Encontrei-o sentado num banco, de frente para o imenso lago azul e as dunas de areia. Sentei-me a seu lado, e ele virou-se e fitou-me atentamente nos olhos.
– O que houve, John?
– As coisas não andam muito bem no meu casamento, Simeão – respondi, com voz trêmula, as lágrimas começando a se acumular em meus olhos.
– Lamento muito saber disso, John.
– Eu me sinto um tremendo fracasso. Se não sei nem lidar com o casamento, imagino que devo ser um fiasco também como líder.
– De que maneira as coisas de que falamos hoje se aplicam ao seu casamento, John?
– Bem, eu faço o que posso! – retruquei, defensivo. – Hoje nós falamos de responsabilidade, e eu realmente acredito estar fazendo a minha parte. Pago as contas de casa, evito aventuras amorosas e procuro ser um pai presente na vida dos meus filhos. Quer dizer, eu faço a minha parte, Simeão. Rachel também tem que contribuir. Afinal, casamento é meio a meio. O professor riu e disse:
– John, seja quem for o gênio que disse isso, é provável que não tenha ficado casado por muito tempo! Um grande casamento, como qualquer grande organização, é 100% para cada lado. É um grupo de líderes com responsabilidades diferentes, inteiramente comprometidos com a união e dando tudo de si. Incrédulo, olhei para Simeão, com vontade de discutir e defender minha posição. Mas reconheci a verdade ao ouvi-la.
Carregando agora