De Volta ao Mosteiro – Capítulo 6 – Habilidade
Os líderes não nascem prontos,
mas se fazem.– VINCE LOMBARD
DEPOIS DO INTERVALO MATINAL, o professor estava ansioso para seguir em frente.– Kim dividiu conosco suas duas percepções sobre a liderança. Quem é o próximo? A diretora levantou a mão:
– Eu me lembro de termos dito, há dois anos, que a liderança é uma habilidade. Hoje, você voltou a mencionar isso. Mas ainda estou meio cética. Eu acho que ou a pessoa tem esse dom, ou não tem.
O professor escreveu,
Liderança = Habilidade
Simeão virou-se para o grupo e indagou:
– E então, o que vocês acham? Os líderes nascem prontos ou são criados?
O sargento se remexia na cadeira, com ar de quem estava prestes a estourar. “Impelido a falar”, eram as palavras que eu me lembrava de ter ouvido Simeão usar para descrever essa condição.
– Como foi afirmado – disse Greg finalmente –, a liderança consiste em inspirar e influenciar a ação das pessoas, e nós inspiramos e influenciamos os outros quando os servimos. E os servimos quando identificamos e satisfazemos suas necessidades legítimas. Isso não é um traço com que se nasça. É uma série de escolhas pessoais que fazemos diariamente e que acabam moldando nosso caráter. Liderança tem tudo a ver com caráter, e nosso caráter tem tudo a ver com as escolhas que fazemos. Se vocês acham que liderança é algo com que se nasça, nunca devem ter estado perto de uma criança de dois anos! Pensem nas qualidades essenciais dos grandes líderes, como autocontrole,
capacidade de ouvir, de assumir responsabilidade, altruísmo, reconhecimento do outro, honestidade e demais traços de caráter de alto nível. Vocês já viram alguma criança de dois anos que manifeste todas essas qualidades?
– Quais são as características da natureza humana? – perguntou Simeão. – Creio que as crianças de dois anos as mostram claramente. Elas exigem “Primeiro eu!”, o que é muito bonitinho nessa idade, mas nada nobre numa pessoa de vinte, quarenta ou sessenta anos. Conheci um número enorme de executivos, vestidos com ternos caros e sentados em escritórios com vista panorâmica. A aparência era de grande maturidade e importância, mas, em termos afetivos, continuavam sendo crianças que ficavam exigindo “Primeiro eu!”.
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– O professor respirou fundo e concluiu: – Estou convencido de que só superamos essa tendência do “Primeiro eu!” se, ao crescermos, levarmos uma vida bem sucedida e bem adaptada às demandas. A diretora interveio:
– Vocês sabem como gosto de precisão nas palavras, por isso acabei de consultar no celular a palavra habilidade. Ela é definida como uma capacidade aprendida ou adquirida. Se a liderança é de fato uma habilidade, uma capacidade aprendida ou adquirida, isso significa que ela está ao alcance de todos nós.
– Todo mundo pode ser líder? Acho que não – retrucou o pastor desmancha prazeres.
– Acho que a Teresa está certa – objetei. – Minha mulher, que é psicóloga, bate sempre na mesma tecla, dizendo que a mudança e o crescimento no caráter e nos relacionamentos são possíveis à maioria das pessoas, desde que não se tenha uma personalidade narcisista nem um distúrbio de caráter. Quem não sabe lidar com relacionamentos não é capaz de exercer a liderança. Porque liderança tem tudo a ver com gente e relacionamentos.
– Concordo, parceiro – disse o sargento. – É claro que a liderança é uma habilidade que pode ser desenvolvida! Caso contrário, de que adiantaria o sujeito ter aulas de liderança, ou se empenhar para ser o melhor possível? Sempre posso relaxar e culpar o meu DNA por minhas deficiências. Meu avô foi mau marido ou mau pai, e é por isso que sou mau marido ou mau pai. Meu pai era um péssimo chefe, e isso explica por que sou um chefe medíocre. Nunca recebi os genes certos da liderança. Quanta besteira!
– Acho que é isso mesmo, Greg – as palavras jorraram de mim. – Se você aceita que a liderança é uma habilidade, uma capacidade aprendida ou adquirida, não tem como escapar. A pergunta passa a ser: “O que você está fazendo para se aprimorar e evoluir para um nível superior?” Os seus empregados veem o seu crescimento? E os seus familiares? Você é um líder melhor hoje do que no ano passado? Fiz uma pausa, pensando no que havia acabado de dizer, e concluí:
– Como podemos pedir às pessoas que nos foram confiadas, a nossos filhos, nossos empregados, a quem quer que lideremos, como podemos pedir que sejam o melhor que puderem, se não nos dispusermos a ser o melhor que pudermos? Olhei para o chão. “Que hipócrita!”, pensei com meus botões. Certamente eu sabia dizer todas as coisas certas sobre a liderança. Mas a realidade da minha vida era outra história, bem diferente. Mesmo assim, continuei:
– Minha experiência no mundo empresarial tem me provado que, na verdade, não acreditamos que a liderança seja uma habilidade. Não acreditamos de fato que ela seja uma capacidade aprendida ou adquirida, como disse a Teresa.
A enfermeira pareceu curiosa:
– Por que você diz isso, John?
– Porque é a realidade. Quando chega a hora de promover alguém, simplesmente escolhemos a pessoa que se sai melhor numa tarefa e a indicamos para ser líder. Vocês todos já viram isso acontecer muitas vezes. Examinamos essa questão no outro encontro, mas vale a pena repetir. Pegamos o melhor operador de empilhadeiras e o
transformamos no supervisor do depósito. Nessa hora, perdemos nosso melhor operador de empilhadeiras e ganhamos um supervisor terrível. Ou então, pegamos o melhor vendedor e o transformamos em gerente de vendas. Aí, perdemos nosso melhor vendedor e ficamos empacados com um péssimo líder. O simples fato de alguém saber
executar uma tarefa não significa que ele saiba liderar outras pessoas com eficiência. O professor pareceu satisfeito:
– Boa colocação, John. A liderança é um conjunto de habilidades completamente diferente. O fato de você saber executar tarefas não significa que saiba inspirar e influenciar outras pessoas na conquista da excelência. Em tom solene, acrescentei:
– Só para vocês saberem, eu posso parecer muito entendido na questão da liderança, mas colocar em prática é outra história. Minha habilidade não está nem perto de onde precisaria estar. Simeão fixou os olhos em mim com ar satisfeito, o que fez com que eu me sentisse melhor. Depois, prosseguiu:
– Conheci dezenas de gerentes, executivos e oficiais militares que tinham lido todos os livros e participado de todos os seminários, mas nunca incorporaram as habilidades de liderança na vida deles. A verdade é que se pode saber tudo sobre a liderança sem nunca saber liderar.
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– É uma grande verdade, Simeão – disse o sargento. – Somos capazes de saber tudo sobre uma coisa sem jamais praticá-la. Minha comandante chama isso de ignorância militante. Ela diz que ignorância é aquilo que não sabemos. Ignorância militante é o que achamos que sabemos, sem saber de fato. E, para completar, os ignorantes militantes costumam ser donos da verdade.
– É mesmo de assustar – concordei. – Acho que isso acontece frequentemente entre os profissionais de saúde mental. Minha mulher é psicóloga, e todo ano sou forçado a suportar mais uma festa de Natal com os colegas dela. Juro que nunca vi tanta gente doida na minha vida! O grupo caiu na gargalhada.
– Como treinadora – disse Chris – encontro torcedores que me xingam das arquibancadas, achando que sabem tudo sobre basquete, e que nunca devem ter jogado uma partida durante a vida. Você tem razão, Simeão, eles acham que sabem tudo sobre basquete, mas não conhecem o jogo na prática. A diretora acrescentou:
– O que estou entendendo é que desenvolver habilidades de liderança é como ser um atleta ou um músico. Ninguém jamais aprendeu a nadar ou a tocar piano lendo um livro. Ninguém jamais se tornou um grande jogador de golfe assistindo aos DVDs do Tiger Woods. O conhecimento tem que ser aplicado e praticado.
– Então – resumiu Simeão – a boa notícia é que a liderança é uma habilidade, uma capacidade adquirida. A má notícia é que vocês jamais desenvolverão habilidades de liderança apenas frequentando seminários e lendo livros. O conhecimento tem que passar da cabeça para o coração, e do coração para a vida cotidiana. Para muitas pessoas, é longa a jornada que vai da cabeça ao hábito. Simeão fez uma pausa e prosseguiu:
– É claro que isso não significa que vocês vão se tornar os maiores executivos do país no futuro próximo. Mas todos somos capazes de elevar nosso padrão e melhorar nosso nível de habilidade. Talvez eu nunca acerte uma bola num torneio de golfe, nem toque um instrumento com a Filarmônica de Nova York, mas posso aprender a jogar golfe ou a tocar um instrumento musical muito melhor do que faço hoje. O mesmo acontece com a liderança. Com conhecimento, prática e persistência, podemos aumentar nossa eficiência como líderes e fortalecer a marca que deixamos nos outros. O professor sempre me dava esperança. Comecei a me sentir um pouco melhor.
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